A equilibrista
despe a pele
por braços e pernas
dorso
em avesso
na travessia arriscada
de ser.
Frentista de um produto arriscado
– o próprio corpo –
se vira em duas
para agarrar as mãos
que são suas.
A equilibrista agarrada
no fio controlado da sua
passagem elástica
se vira em quatro.
(A equilibrista
vive
de improviso
acrobático.)
Bicho que arrasta
patas, cara de gente,
boca
de gata.
Como é pequeno o espaço que lhe é dado
para passar o corpo desdobrado
que termina por crescer no quadro
para não cair, para ser segurado.
A equilibrista projeta ser
como um desenhista o desenho.
Mas para ser, o caminho é estreito:
há trecho em que só a mulher passa,
tem outro que só a esfinge devassa.
A equilibrista é uma dupla esforçada
metade gente, metade bicho.
(Mas não desistirá do capricho
de explorar o seu próprio espaço.)
Lélia Coelho Frota