30/12/2017

A equilibrista


A equilibrista
despe a pele
por braços e pernas
dorso
em avesso
na travessia arriscada
de ser.

Frentista de um produto arriscado
– o próprio corpo –
se vira em duas
para agarrar as mãos
que são suas.

A equilibrista agarrada
no fio controlado da sua
passagem elástica
se vira em quatro.
(A equilibrista
vive
de improviso
acrobático.)

Bicho que arrasta
patas, cara de gente,
boca
de gata.

Como é pequeno o espaço que lhe é dado
para passar o corpo desdobrado
que termina por crescer no quadro
para não cair, para ser segurado.

A equilibrista projeta ser
como um desenhista o desenho.
Mas para ser, o caminho é estreito:
há trecho em que só a mulher passa,
tem outro que só a esfinge devassa.

A equilibrista é uma dupla esforçada
metade gente, metade bicho.
(Mas não desistirá do capricho
de explorar o seu próprio espaço.)

Lélia Coelho Frota

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Olá. Aqui é o Pássaro das Sombras. Obrigado por estar aqui. Seu recadinho eu irei responder rapidinho.